quarta-feira, 3 de junho de 2009

Por te querer

Vinha andando pela rua deserta,
nem apito ou buzina ou andante distraído.
Assim vinha eu andando pela rua deserta.
Sem querer me vi do mesmo modo seguindo,
minha vida vazia e eu tão repleta de mim,
de querer de viver e de ser.

Mas, não há deserto no mundo que não me fala de ti.
Poderia eu vir com toda a memória do que não há.
Poderia eu ser o bálsamo de todo porvir.
Poderia todo o mundo decretar um fim sobre todas as coisas.
Poderia o sino tocar as doze badaladas da meia-noite,
de forma louca, agonizante e rouca.
Poderia uma assombração aparecer-me anunciando o fim dos tempos.
Poderia tudo, meu pequeno e grande amor, tudo ser deflagrado.
Só não poderia no ceara que me rodeia,
tu não rodear-me, horas a fio e cheias,
com a lembrança mais bela do quanto quero amar-te ainda.

Neusa Azevedo

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