quarta-feira, 3 de junho de 2009

Morte

Hoje alguém morreu.
Todos os dias, morre muita gente.
Um sopro pousou para sempre um peito arfante.
Os instantes interrompem muito respirar.
Uma senhora olhou pela última vez o mundo.
Quantos olhares quedaram-se pela última vez a coisa-em-si!
Um gesto repousou um corpo rente.
Milhares de movimentos silenciaram-se em inércia.
Uma idosa lembrou uma escolhida lembrança.
Memórias marcantes se branquearam e partiram.
Um vulto de criança embaralhou a vista da dona envelhecida.
Imagens pueris entrelaçaram adultos e fizeram despedida.
Entre a senhora e toda gente que morreu há
uma simples e enorme diferença,
enquanto a mulher é velada na vizinhança de minha porta,
os corpos desconhecidos não têm fisionomia ou sorriso para eu lembrar.

Neusa Azevedo.

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