Hoje alguém morreu.
Todos os dias, morre muita gente.
Um sopro pousou para sempre um peito arfante.
Os instantes interrompem muito respirar.
Uma senhora olhou pela última vez o mundo.
Quantos olhares quedaram-se pela última vez a coisa-em-si!
Um gesto repousou um corpo rente.
Milhares de movimentos silenciaram-se em inércia.
Uma idosa lembrou uma escolhida lembrança.
Memórias marcantes se branquearam e partiram.
Um vulto de criança embaralhou a vista da dona envelhecida.
Imagens pueris entrelaçaram adultos e fizeram despedida.
Entre a senhora e toda gente que morreu há
uma simples e enorme diferença,
enquanto a mulher é velada na vizinhança de minha porta,
os corpos desconhecidos não têm fisionomia ou sorriso para eu lembrar.
Neusa Azevedo.
quarta-feira, 3 de junho de 2009
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