quarta-feira, 30 de março de 2011

Confissâo

Se um passo eu dou é certo que estarei adiante.
Se uma árvore eu planto é certo que melhorarei o mundo.
Se uma criança eu afago é certo que me purifico.
Se uma flor eu oferto a alguém é certo que o farei feliz.
Se termino uma discória é certo que conquistarei a paz.
Se em um rio eu me banho é certo que ficarei mais suave.
Se um trabalho eu realizo é certo que me torno mais competente.

E assim segue lista infinda a provar que podemos ser melhores.
O certo é que eu não caibo nesta busca da perfeição.
Dou muitos passos, mas trôpegos.
Não há no planeta terrra árvore plantada por mim.
Afagos que faço em crianças não são afagos de mãe.
Há tempos não dou sequer uma pequena flor a alguém.
Minhas discórdias, quando as tenho, pedem mudança e não paz.
Não tenho me banhado em rios, meu corpo anda seco.
Realizo trabalhos, mas não se projetam aos seus olhos.

Deus, Deus, ouça minha confissão e me responda:
É melhor ser uma ave que voa liberta que ser uma corrente que prende?
È melhor pecar e pedir perdão todos os dias de nossas vidas que não errar para acertar?
Perdoe-me, Oh! Deus meus pés descalços e sem rumo.

terça-feira, 29 de março de 2011

Alfabeto da Separação

Você é meu alfabeto.
Letra por letra.
Palavra por palavra.
Frase por frase.
Mas quando grito seu nome
é o lamento do eco quem responde.

São variadas as letras que clamam por você.
Porque em todas as combinações que eu puder fazer
misturo pseudônimos, apelidos glórios e inglórios.
E quantas silabas você ouve? Talvez uma, duas, três.
Mas você não ouve minha voz inteira.
Porque quem ouve responde, balbucia ao menos.

Quando o alfabeto entre nós dispersou as letras?
Lembro-me: nós debaixo da lua aprendendo sobre estrelas.
Nós nas ruas passando sorrindo para mil e mil pessoas.
E no banco da praça? Ouvíamos segredos de passarinhos.

E ainda e por cima de tudo, as nossas viagens.
Eram lindas de trem, ônibus, avião ou navio.
Íamos para eternidade o mundo era afora e sem fim.
Tínhamos o infinito a raiar todos nossos dias.
Eram muitos sonhos, os sonhos a despencar no tempo.

De silêncio em silêncio recordo você.
Pois as letras, as palavras e as frases
voltaram à pré-história.
E meu tempo anda de ré.

sábado, 19 de março de 2011

Brava Vida

Uma velha, que por velha, não devia ser chamada assim.
Mas, a quero velha que sendo velha mais bonita parecerá.
Seus braços se ornavam de pulseiras coloridas.
Seus olhos, ah seus olhos! Brilhavam a cor de seus pulsos.
Adorava as manhãs, pela madrugada passava quieta.
Porém, ao iniciar as luzes do dia, sorria, sorria à vida.
Tinha dores a nossa velha amada? Tinha lágrimas?
Certamente ela tinha sim: os dissabores da vida.
No entanto, o quanto viveu havia lhe preparado à felicidade.
Mínimos gestos, pequenas palavras ela soletrava,
com tanto vigor, com tanta força,
que suas rugas se escondiam no encanto da vida.
Esperava pela morte? Não, ela tinha certeza dela.
E quando se tem certeza de alguma coisa não é preciso afrontá-la.
Lírios, rosas, pequeninas flores coloriam os seus dias. Que jardim!
Jardins solenes de sua vida. Porque em um trono ela se sentava.
Sabia ser a princesa, sem reinado, no tempo, em todo infinito.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Chuvas de Verão

Se as chuvas deste verão
Soubessem calar-me o pranto
Eu não me sentiria
Misturada às águas de março.

Estou com a janela fechada.
Pois o sol se mudou de país.
A porta, quando a abro,
Não vens tu! Não vens tu!
Mudou-se de continente.

Se todas as enxurradas que
Passam em minha rua,
Trouxessem você na correnteza
Mais sorrisos eu teria
Quando minha casa se abrisse.

Sol, vem falar-me
Pouse teus raios em meus pensamentos.
Dai-me a alegria de saber que existes
Que milhões de anos ainda vais durar
Se tu não apareces como meu amor também não
Eu não me importo de ver-me a chover

Mas, ah! ah!O verão vai passar, vai passar.
Então felizes secaremos com a estação
E meu amor hás de voltar, hás de voltar.
Para sempre, sempre hás de voltar.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Meu Amor Mendigo

O meu amor mendigo
Tem abrigo, tem abrigo
No seu casebre tem brio
Na soleira da porta fica
Um vê passar
Dois vê passar
Quantos?
Mil talvez veja passar
Qual diferença ele pode notar?
São tantos que sempre passam.
Uns são verdes
Outros amarelos
Alguns negros
Poucos vermelhos
São as cores variadas
Que meu amor pode notar

Se são tantas horas abaixo da porta
Perdido em vão quer falar
Ninguém há na soleira
Além dele não há ninguém

Horas e horas passadas
Toca, então, seu violão
No boteco há metros
Tão perto, que sua casa
Parece ouvir o dedilhar
É disso que meu amor tem saudade
De acreditar que em músico ele vá se tornar

Por que meu amor fica horas a fio na penumbra das ruas?
Porque um sonho ele pensa haver deixado escapar.
Não ouve quem ouvisse sua canção.
A que compôs pertinho do coração.
E talvez eu mendigue seus mistérios a gritar.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Tempo espaço

Minha vida corre rápida e silenciosa.
Nos momentos tristes e nos felizes.
Nos de compaixão e de solidão.
Ela sempre anda para frente.

Às vezes quero voltar atrás,
Para deixar as coisas melhores.
Para deixar as coisas mais fáceis de compreender.
Para organizar a vida.

Às vezes me sinto culpado,
De julgar o tempo.
Porque ele se organiza pouco a pouco.
Às vezes lento; às vezes rápido.
Ele sempre se adianta.

Raul Gonçalves Azevedo Silva.

Estou postando este poema no meu blog porque gostei muito dele e foi escrito por meu sobrinho de 11 anos.